A PROVIDÊNCIA DE DEUS E SUA SOBERANIA
O Deus cuja fé nós professamos é soberano. “Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz” (Sl 115:3). Não me refiro a um deus qualquer; estou falando do Deus triuno, o criador de tudo, aquele que fez os céus, as estrelas e o amar. Ele é o todo poderoso. Cremos, não obstante d’Ele ser o criador de tudo, que Ele é Provedor. Não há um outro deus além d’Ele nada que acontece no universo O surpreende. Ele está no controle de tudo, até o futuro para ele não existe porque tudo ele sabe e ordena. “Deus faz todas as coisas segundo o concelho de sua vontade” (Ef 1:11). Os ventos O obedecem, as montanhas se inclinam parente ele, o mar proclama sua grandeza. Nada neste mundo está fora de seu controle.
Quanto a soberania, tenhamos o cuidado de compreender, em primeira instância, a distinção entre a soberania de Deus e o seu “poder”, que é conceituado teologicamente como a omnipotência de Deus. Não que a soberania não seja “poder”. Sendo assim, com a omnipotência referimo-nos à capacidade de Deus de efetuar certas coisas, ao passo que a soberania designa sua prerrogativa régia de fazer o que lhe agrada, como atestam as Escrituras: “mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz” (Sl 115:3). Com isso quero assegurar que o poder físico de Deus é mais bem descrito como onipotência, em contraste com o poder moral de Deus que deve ser concebido como sua soberania.
Entre os reformadores, escoamos a providência de Deus desde Ulrico Zuínglio (1484-1531), que escreveu um tratado sobre a providência soberana de Deus. Ele afirmou: “A providência é o governo contínuo e imutável de todas as coisas do universo e seu controle [Deus] livremente supre tudo com todas as coisas (Ulrico Zuínglio, On Providence. Pág:136). Neste assunto, claro que João Calvino não ficou de fora! Em suas Institutas, João Calvino escreveu três capítulos sobre a providência. Ele disse que seria “insensível e improdutivo” pensar em Deus como um Criador que abandona a criação à própria sorte. Calvino afirmou: “Ele também é regente e mantenedor eterno”. Ademais, Deus “a sustém, alimenta e cuida de tudo que fez, até mesmo o menor pardal”. E acrescentou: “Deus de tal forma controla cada acontecimento, e todos eles”.
O notável reformador em sua época, Henry Bullinger (1504-1575), sucessor de Zuínglio, porém esquecido em nossos dias, em sua famosa série de sermões intitulados Decades, também apresentou uma sólida abordagem bíblica sobre a providência. Citou as palavras de Teodoreto de Cirro de que é ridículo pensar que o Criador de todas as coisas abandonaria a criação como um barco sem ninguém para pilotá-lo, levado de um lado para outro pelo vento até se despedaçar nas rochas. E Teodoro Beza escreveu: “Nada acontece por acaso e sem um justíssimo decreto de Deus”. Assim era concebido a doutrina providência entre os reformadores.
Os puritanos foram mui prolífico nesta doutrina e com abordagens incisivas. Em Heidelberg, os teólogos levantam a seguinte questão: “O que queres dizer com providência de Deus?” Com olhos abertos e entendimento bíblico eles não só concluíram como ensinavam que a providência de Deus é “O poder total e onipresente de Deus em que, por assim dizer, com sua mão ele sustém e governa os céus, a terra e todas as criaturas, de modo que a erva e a grama, a chuva e a seca, os anos frutíferos e os anos estéreis, a carne e a bebida, a saúde e a enfermidade, as riquezas e a pobreza e sim, todas as outras coisas não acontecem por acaso, mas por sua mão paterna”. O Catecismo de Heidelberg é prova de que no início da era puritana, cristãos reformados professavam o consolo experiencial da doutrina da providência.
O notável erudito, William Ames, em sua obra Marrow of theology, traduzido como “ O Âmago da teologia”, escreve acerca da “eficiência ou do poder atuante [de Deus...] mediante o qual ele opera todas as coisas em todas as coisas (Ef 1.11; Rm 11.36)”. Tudo depende de Deus como a causa primária tanto de sua substância quanto de suas circunstâncias (Is 45.7; Lm 3.37,38). Com frequência Deus emprega meios, embora não precise desses meios. Sua providência tanto preserva todas as coisas (SI 104.19,20; At 17.28; Hb 1.3) quanto governa todas elas (SI 29.10; Gn 50.20).
“No princípio criou Deus os céus e a terra ”(Gn 1:1). No entanto, “o ponto de vista bíblico é que não poderia haver um universo sem o ato divino de criação. Como atestam as Escrituras, no texto citado. Tanto mais que “quando Deus criou o universo, ele não saiu de cena e o deixou a funcionar sozinho”. Ademais, o que chamamos de “leis da natureza”, o Dr. Sproul reitera que “apenas reflete a maneira normal pela qual Deus sustenta ou governa o mundo natural. “Talvez o conceito mais ímpio que tem cativado a mente de pessoas modernas seja a crença de que o universo opera por acaso. Isso é o extremo da tolice, afirmou R. C. Sproul (Somos todos teólogos, p.72).
A doutrina puritana da providência encontrou sua mais bela expressão em John Flavel, em sua obra The mystery of providence [O mistério da providência]. Flavel leva-nos a ver Deus como “um anatomista minucioso que distingue o caminho de todas as veias e artérias do corpo”. E ver a providência de Deus em suas bênçãos usuais, como, por exemplo, em nossas atividades diárias.
Flavel afirmou que o objetivo de Deus com isso não é a nossa autossatisfação imediata, mas nossa bênção eterna. Ele explicou: “Se tivésseis do mundo mais do que tendes, vossas mentes e corações talvez não conseguissem administrá-lo para seu próprio bem”. Deus coloca obrigações diretamente sobre nossos ombros para que não sejamos preguiçosos e também para que não demos ao nosso chamado neste mundo precedência sobre nosso chamado para confiar no Senhor e servi-lo, jamais nos esquecendo de que Deus é nosso supremo benfeitor (Teologia Puritana, p.253).
A doutrina da providência de Deus tem sido afastada nos nossos púlpitos. Assistimos a infusão da cosmovisão secular que vem tirado Deus como o todo soberano, provedor e que nada está no seu controle. Neste pensamento secular presume-se que tudo acontece de acordo com causas naturais fixas, deixado Deus como um mero espectador sem poder para exercer controle ou poder agir. Este pensamento não simplesmente coloca em causa a soberania de Deus como também fere a providência de Deus.
Qual é a vantagem de sabermos que Deus criou todas as coisas e que, mediante sua providência, ainda as sustém? Resposta: “É para que tenhamos paciência na adversidade, gratidão na prosperidade, e para que, em todas as coisas que nos sobrevenham, depositemos em nosso Deus e Pai fiel nossa firme confiança de que nada nos separará de seu amor, visto que todas as criaturas estão de tal maneira em sua mão que sem a vontade divina elas não podem nem mesmo se mexer”. (Doctrinal standards, liturgy, and church order, 2003, p. 38.).
No demais, irmãos meus no Senhor, conhecendo Deus como provedor, concluímos que precisamos permanecer firmes naquilo que Deus revelou nas Escrituras. Cuidemos em conservar em nossas vidas e no coração da igreja que “não existe nada que Deus fez com a boa mão da providência, que ele não governe e nem sustenha” O conhecimento da providência divina deve continuamente trazer consolo em nosso sofrimento. Deus está no controle não somente do mundo e quanto todo seu funcionamento, mas também da história, pois, nada o surpreende nem o futuro é desconhecido para Ele. Portanto “E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28). Como igreja descansamos em sua providência. Precisamos trazer de volta essa doutrina, pois ela assegura-nos que nossa vida está em suas mãos, nossa salvação está em suas mãos, como também estão nossa prosperidade e nossa pobreza, para o louvor de sua graça em Cristo Jesus e aquietemos também os nossos corações sabendo que Deus governa todas estas coisas em sua sabedoria e bondade para o louvor da sua glória.
(C. R. Bernardo)

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